Em Hamlet, William Shakespeare afirmou haver algo de podre no reino da Dinamarca. No Brasil, as altas taxas de juros são a faceta negativa do país. Denotam que há graves distorções na economia nacional ou então que a força dos gigantes financeiros, apoiada pela grande mídia, Banco Central e a cúpula do governo, é excessiva. Um país normal não precisa de juros tão altos. Alegam os homens de preto do Comitê de Política Monetária (Copom) que é necessário manter a estabilidade e que os juros se destinam a conter a inflação. As metas podem ser nobres, mas a disparidade em relação ao resto do mundo é flagrante.
Em termos de taxas reais - descontada a inflação - o nível brasileiro, o maior do mundo, é de 6,8%, contra 2,4% da segunda colocada, a Hungria. A Turquia, que por vezes tirou do Brasil o indesejado cetro, hoje tem juros básicos próximos a zero. Estados Unidos e Europa impõem taxas entre zero e 1%, no máximo 2%. Ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Roberto Troster já opinou que os juros altos, como um antibiótico muito repetido, já não geram o efeito positivo que se pretenderia alcançar. O país praticamente não tem dívida externa, pois as reservas são suficientes para quitá-las. A dívida pública federal, no entanto, é altíssima e, em sua maior parte, remunerada com a taxa básica - ou seja, quase o dobro do que um cidadão comum obtém ao deixar seu dinheiro na caderneta de poupança.
O governo não consegue sequer pagar os juros da dívida pública federal, que cresce dia a dia, já superando R$ 1,8 trilhão - rumo a R$ 2 trilhões. Alguns analistas afirmam que o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ainda merece aplausos, pois, se dependesse do "ex" Henrique Meirelles, a taxa já estaria em 14%. Só que 12,5% já é demais. CUT e UNE não se pronunciam - pelo menos de forma dura. Mas a Força Sindical declarou: "O Governo agrada ao mercado financeiro - principal beneficiário da medida. Para nós trabalhadores, no entanto, esta política impede que o país tenha um desenvolvimento necessário para melhorar a qualidade de vida dos cidadãos, gerar empregos e distribuir a renda". O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo, Paulo Skaf, embora aliado político do Governo Federal, alertou para a crescente desindustrialização. Em nome do comércio, o presidente da Confederação Nacional dos Diretores Lojistas, Roque Pelizaro Júnior, destacou que essa taxa irá atrair especuladores de todo o mundo e valorizar ainda mais o real.
Muito pior do que a taxa básica de juros são os juros pagos diretamente pelo povão. Dados da isenta Associação Nacional dos Executivos de Finanças e Contabilidade (Anefac) destacam que, ante inflação em torno de 6,5% ao ano, os empréstimos pessoais têm taxa média de 72% nos bancos e 191% nas financeiras. E os cartões de crédito - empresas consideradas modernas e solidárias, que patrocinam eventos esportivos, campanhas de sustentabilidade e ajudam nas festas de igrejas e no Natal dos pobres - aplicam um verdadeiro torniquete medieval nos endividados: exigem juros de 239% ao ano de suas vítimas.
Monitor Mercantil
Fonte: http://www.jornalcontabil.com.br
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Juros são face podre do emergente Brasil
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