Dívida de empresas aumenta em R$ 8,17 bilhões
Acréscimo é efeito do câmbio. Valor equivale a 43% do lucro
POR: RONALDO D'ERCOLE
SÃO PAULO - O endividamento em moeda estrangeira de uma amostra de 104 empresas brasileiras cresceu R$ 8,17 bilhões entre o fim de junho e o dia 19 deste mês. Este valor corresponde a 43,8% do lucro operacional (Ebit) que registraram ao longo do segundo trimestre (que somou R$ 18,6 bilhões). Os dados são de levantamento feito pela consultoria Economatica, com base nos balanços das empresas que informam suas dívidas (de curto e de médio prazos) em moeda estrangeira.
O impacto do câmbio aferido pela pesquisa, contudo, não leva em conta o fato de que muitas dessas empresas são grandes exportadores, o que lhes dá uma proteção (hedge) natural contra as oscilações do dólar. É o caso das fabricantes de celulose Fibria e Suzano, e das gigantes JBS e BRF, que embora encabecem a lista das mais endividadas, estão entre os maiores exportadores mundiais dos seus mercados.
— Essas empresas exportam muito e estão cobertas dessas oscilações — diz William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos e Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Empresas mais preparadas
Quanto às empresas sem receitas em dólar, caso da Oi e da Eletrobras, que apresentam elevado nível de endividamento, Eid Júnior diz que muito provavelmente essas empresas dispõem de instrumentos financeiros que lhes permitam absorver os efeitos dessas oscilações.
— Acho que as companhias brasileiras aprenderam com a crise de 2009, quando muitas foram pegas com hedge de alto risco e perderam muito dinheiro. E se planejam não pela probabilidade de o câmbio subir, mas para fazer frente a essa ocorrência. E a perspectiva de alta do dólar era conhecida — diz Eid Junior, acrescentando: — As empresas aprenderam a mexer com esses créditos e têm como se proteger.
Não constam do levantamento da Economatica companhias como Vale, CSN e Gerdau, que divulgam as informações sobre dívidas em notas técnicas. A Petrobras, cujo endividamento em moeda estrangeira somava R$ 174,4 bilhões em junho, também não foi incluída em razão da magnitude dos seus números.
As despesas financeiras da Petrobras com a alta do dólar — que passou de R$ 2,21, em 30 de junho, para R$ 2,39 no último dia 19 — cresceram R$ 14, 36 bilhões no período, valor equivalente a 124,9% do seu lucro operacional no trimestre passado.
O levantamento da Economatica não levou em conta ainda eventuais dívidas que as empresas analisadas tenham em outras moedas. Contudo, embora algumas delas possam ter feito captações de dívida em euros e ienes no mercado internacional, a moeda americana é a divisa usada na grande maioria dos financiamentos contratados lá fora.
Fonte: O Globo – RJ
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